Paulo e Onesíforo –
O companheiro de Paulo, Onesíforo, morre, e Paulo fala a respeito dele em sua
segunda epístola a Timóteo: “O Senhor conceda
misericórdia à casa de Onesíforo, porque muitas vezes ele me reanimou e não se
envergonhou por eu estar preso; ao contrário, quando chegou a Roma, procurou-me
diligentemente até me encontrar. Conceda-lhe
o Senhor que, naquele dia, encontre misericórdia da parte do Senhor!
Você sabe muito bem quantos serviços ele me prestou em Éfeso” (cf. 2ª Tm.1:16-18).
Este desejo de Paulo reforça ainda mais
aquilo que já vimos até aqui: os mortos permanecem sem vida até a ressurreição
dos mortos, quando serão despertados, sendo julgados para entrarem no Céu ou no
inferno. Sabendo que Onesíforo, já morto, se encontrava nesse estado, Paulo
deseja que ele encontre misericórdia da parte do Senhor “naquele dia” , indicado como um acontecimento futuro, o dia do juízo na segunda vinda
de Cristo.
Para os imortalistas isso não faz qualquer sentido
já que Onesíforo já teria encontrado
a misericórdia da parte de Deus, pois já teria supostamente entrado no Paraíso
com todos os outros santos. A misericórdia a Onesíforo já seria encontrada, ele
já estaria no Céu e já teria sido julgado (cf. Hb.9:27), já estaria desfrutando das bênçãos
paradisíacas. Contudo, Paulo nada diz de Onesíforo já ter partido para a glória
celestial, e ainda consola a família baseando-se na esperança de alcançar a
misericórdia da parte do Senhor “naquele dia”, obviamente porque ele não
teria encontrado tal misericórdia ainda.
Isso não faz senso algum caso Onesíforo já
estivesse no Paraíso, pois Paulo (assim como qualquer imortalista) teria
escrito que Onesíforo já teria alcançado
a misericórdia de Deus e que ele já
estava na “glória”. Mas o fato é que Onesíforo ainda não alcançou a misericórdia de Deus, e somente a alcançará “naquele
dia”, o dia do juízo. Paulo deseja que ele alcance a misericórdia de Deus no dia do juízo, uma vez que Onesíforo
não havia sido julgado ainda para encontrar a misericórdia da parte de Deus e
entrar no Céu. Tal declaração de Paulo é fatal à doutrina da imortalidade por
dois motivos principais:
(1) A consolação de
Paulo não é que Onesíforo já esteja confortado no Céu, mas sim de obter a
misericórdia no dia de um juízo futuro.
(2) Se Onesíforo já
estivesse no Céu então já teria alcançado a misericórdia de Deus e, portanto,
Paulo teria que ter empregado o verbo no passado: “encontrou”, e não “encontre naquele dia”, a misericórdia da
parte do Senhor.
A linguagem de Paulo difere absurdamente
dos defensores da alma imortal, porque ele não diz que “ele encontrou
misericórdia da parte de Deus”; mas sim que ele só encontrará a misericórdia de
Deus em um acontecimento futuro que se dará “naquele dia”. Evidentemente, tal
linguagem de Paulo expressa a sua convicção de que os que já morreram só ganham
vida em um acontecimento futuro – “naquele dia” – e, portanto, torna-se lógico
o desejo do apóstolo em ver Onesíforo encontrar a misericórdia de Deus em um
futuro distante, e não em consolar alguém com a ilusão de que este já estaria
“na glória”, já tendo passado pelo juízo e alcançado a misericórdia de Deus.
A salvação do espírito é no
Dia do Senhor – “Entreguem esse homem a Satanás, para que o seu corpo
seja destruído, e o seu espírito seja salvo
no dia do Senhor” (cf. 1Co.5:5). Essa é uma refutação de peso para a
doutrina de que o espírito é salvo logo no momento da morte. O apóstolo Paulo
ressalta que o homem que seria excomungado da Igreja (“entregue a Satanás”) de alguma forma poderia se voltar a Cristo e
buscar a salvação para ser salvo. A pergunta que fica é: quando é que o
espírito deste homem seria salvo? Quando ele morresse? Não, mas “no dia do
Senhor”, que é claramente relacionado com a segunda vinda de Cristo.
Inúmeros versículos nos mostram que o “dia
do Senhor” trata-se da Sua segunda vinda: “O sol se
converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia
do Senhor” (cf. At.2:20). Outras passagens que relacionam claramente
o “dia do Senhor” que ainda está por vir com a segunda vinda de Cristo
encontram-se nas epístolas de Paulo aos tessalonicenses: “Pois vós mesmos estais inteirados com precisão que o dia
do Senhor vem como o ladrão de noite” (cf. 1Ts.5:2). E novamente ele
afirma que o dia do Senhor é o momento da Sua segunda vinda: “A que não vos demovais da vossa mente, com facilidade,
nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola,
como se procedesse de nós, supondo tenha chegado o dia do Senhor”
(cf. 2Ts.2:2).
O “dia do Senhor” não chegou ainda porque
ele só acontece na segunda vinda de Cristo. Paulo, em todas as suas epístolas,
compartilhava sua crença de que o dia do Senhor é relacionado à volta de Cristo.
Pedro também compartilhava da mesma ideia ao escrever: “Virá,
entretanto, como o ladrão, o dia do Senhor, no qual os céus passarão com
estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as
obras que nela existem serão atingidas” (cf. 2Pe.3:10).
Vemos, portanto, que o “dia do Senhor”
é uma clara referência à segunda vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, a Sua
Volta gloriosa, e não ao momento da morte do homem a quem Paulo se refere. É no
momento da segunda vinda de Cristo que o espírito será salvo, e não no momento
da morte! Vale ressaltar sempre que é exatamente nesta segunda vinda que ocorre
a ressurreição (cf. 1Co.15:22,23).
Se Paulo cresse que uma alma imortal
deixasse imediatamente o corpo com a morte, levando consigo consciência e
personalidade, então diria que o espírito seria salvo no momento da morte.
Contudo, é claro o sentido do texto – o espírito é salvo “no dia do Senhor”, e
não no dia de sua morte, o que nos revela ainda mais claramente a crença de
Paulo de que a vida era somente a partir da ressurreição.
Sendo que é nos dito de modo claro que “o corpo seja destruído” [iria morrer
corporalmente], o que esperaríamos na sequência, se existisse a imortalidade da
alma, seria que o espírito seria salvo logo neste mesmo momento da morte,
partindo imediatamente para junto de Deus. Contudo, Paulo faz questão de
ressaltar que o espírito será salvo é “no
dia do Senhor”, e não no dia da morte ou no mesmo momento exato da
destruição corporal, porque é somente no dia do Senhor que ocorre a
ressurreição para a vida.
Os filhos não foram
revelados na glória ainda – “A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os
filhos de Deus sejam revelados” (cf. Rm.8:19). Se os
filhos de Deus já estivessem na glória, então a natureza não estaria esperando
nada, pois já estariam todos sendo sucessivamente revelados nas mortes de cada
um! Veja que o verbo está no futuro: “sejam
revelados”; e não: “estão sendo revelados” ou “foram revelados”! O que o
apóstolo Paulo escreve vai frontalmente contra a doutrina de que “morremos e
vamos para a glória celestial”, porque os filhos de Deus ainda nem sequer foram
revelados.
A natureza está aguardando, isto é, ela está com “grande expectativa”,
sabendo que os filhos de Deus não foram revelados, mas haverá um dia em que
eles, finalmente, serão revelados. Essa é a expectativa que todo verdadeiro
cristão deveria ter, centrado no glorioso dia da ressurreição dentre os mortos
no qual os filhos de Deus serão finalmente revelados para a glória diante de
Deus.
Alguém ainda poderia argumentar como é que podemos ter a completa certeza
de que se trata realmente da ressurreição dos mortos. A resposta a isso está na
própria continuação da passagem no seu contexto, que deixa tal interpretação
ainda mais clara:
Romanos 8
19 A natureza criada aguarda, com grande
expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados.
20 Pois ela foi submetida à futilidade, não pela sua
própria escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança
21 de que a própria natureza criada será libertada da
escravidão da decadência em que se encontra para a gloriosa liberdade dos
filhos de Deus.
22 Sabemos que toda a natureza criada geme até agora, como
em dores de parto.
23 E não só isso, mas nós mesmos, que temos os primeiros
frutos do Espírito, gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa
adoção como filhos, a redenção do nosso corpo.
24 Pois nessa esperança fomos salvos. Mas, esperança que se
vê não é esperança. Quem espera por aquilo que está vendo?
25 Mas se esperamos o que ainda não vemos, aguardamo-lo
pacientemente.
Paulo afirma que ele esperava com ansiedade o momento em que seremos
adotados como filhos, e indica este momento na sequência: a redenção do nosso corpo! Uma clara referência à ressurreição dos
mortos, quando este corpo corruptível se transformará em incorruptível e a
nossa natureza mortal se revestirá de imortalidade. O que Paulo afirma é muito
importante, pois a partir disso vemos que a expectativa de Paulo não era que
sua alma deixasse o seu corpo rumando a um estado intermediário, mas estava
totalmente centrada na ressurreição dos mortos.
Tal era a esperança dele, na qual ele diz que esperava ansiosamente (v.23).
Quanta diferença para os dias de hoje em que a doutrina da imortalidade da alma
fez com que a ressurreição se tornasse um mero detalhe desnecessário! É óbvio
que esta é a esperança de Paulo porque é neste momento em que ele se veria na
glória. Tal conclusão fica ainda mais forte quando vemos que é neste
momento em que seremos adotados como filhos (v.23). Não é logo após a
morte em um estado desencarnado, mas sim na “redenção
do nosso corpo”, na ressurreição dos mortos.
Paulo nem imaginava que poderia ficar milênios no Paraíso em um “estado
intermediário” sem ter sido adotado como filho ainda para só depois disso Deus finalmente adotá-lo
como filho e só depois disso ele ser revelado. O foco todo é na ressurreição
dos mortos, porque é somente neste momento que vem a adoção como filho na
glória (v.23). Paulo segue uma lógica incontestável: os filhos de Deus ainda
não estão revelados (v.19), a espera ansiosa era pela redenção do corpo (ressurreição
- v.23), e a nossa adoção como filho é também somente na ressurreição (v.23)!
E Paulo ainda conclui: “é nessa esperança que fomos
salvos” (v.24)! Qual
é o contexto? Qual é a ênfase? Qual é o sentido lógico lendo-se todo o
conjunto? É óbvio que Paulo sabia que o momento em que estaria na glória seria
na ressurreição, quando finalmente seremos adotados como filhos. E era nessa esperança - da ressurreição - que
ele vivia, e não na ilusão de uma vida em estado incorpóreo, antes de chegar
qualquer "redenção do nosso corpo" e antes da nossa "adoção como
filhos".
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)
-Artigos relacionados:
-Não deixe de acessar meus outros sites: