Desmistificando a lenda de uma alma imortal

9 de setembro de 2013

Quando os justos entrarão no Reino? - Parte 1


Paulo e Onesíforo O companheiro de Paulo, Onesíforo, morre, e Paulo fala a respeito dele em sua segunda epístola a Timóteo: “O Senhor conceda misericórdia à casa de Onesíforo, porque muitas vezes ele me reanimou e não se envergonhou por eu estar preso; ao contrário, quando chegou a Roma, procurou-me diligentemente até me encontrar. Conceda-lhe o Senhor que, naquele dia, encontre misericórdia da parte do Senhor! Você sabe muito bem quantos serviços ele me prestou em Éfeso” (cf. 2ª Tm.1:16-18).

Este desejo de Paulo reforça ainda mais aquilo que já vimos até aqui: os mortos permanecem sem vida até a ressurreição dos mortos, quando serão despertados, sendo julgados para entrarem no Céu ou no inferno. Sabendo que Onesíforo, já morto, se encontrava nesse estado, Paulo deseja que ele encontre misericórdia da parte do Senhor naquele dia , indicado como um acontecimento futuro, o dia do juízo na segunda vinda de Cristo.

Para os imortalistas isso não faz qualquer sentido já que Onesíforo já teria encontrado a misericórdia da parte de Deus, pois já teria supostamente entrado no Paraíso com todos os outros santos. A misericórdia a Onesíforo já seria encontrada, ele já estaria no Céu e já teria sido julgado (cf. Hb.9:27),  já estaria desfrutando das bênçãos paradisíacas. Contudo, Paulo nada diz de Onesíforo já ter partido para a glória celestial, e ainda consola a família baseando-se na esperança de alcançar a misericórdia da parte do Senhor “naquele dia”, obviamente porque ele não teria encontrado tal misericórdia ainda.

Isso não faz senso algum caso Onesíforo já estivesse no Paraíso, pois Paulo (assim como qualquer imortalista) teria escrito que Onesíforo já teria alcançado a misericórdia de Deus e que ele já estava na “glória”. Mas o fato é que Onesíforo ainda não alcançou a misericórdia de Deus, e somente a alcançará “naquele dia”, o dia do juízo. Paulo deseja que ele alcance a misericórdia de Deus no dia do juízo, uma vez que Onesíforo não havia sido julgado ainda para encontrar a misericórdia da parte de Deus e entrar no Céu. Tal declaração de Paulo é fatal à doutrina da imortalidade por dois motivos principais:

(1) A consolação de Paulo não é que Onesíforo já esteja confortado no Céu, mas sim de obter a misericórdia no dia de um juízo futuro.

(2) Se Onesíforo já estivesse no Céu então já teria alcançado a misericórdia de Deus e, portanto, Paulo teria que ter empregado o verbo no passado: “encontrou”, e não “encontre naquele dia”, a misericórdia da parte do Senhor.

A linguagem de Paulo difere absurdamente dos defensores da alma imortal, porque ele não diz que “ele encontrou misericórdia da parte de Deus”; mas sim que ele só encontrará a misericórdia de Deus em um acontecimento futuro que se dará “naquele dia”. Evidentemente, tal linguagem de Paulo expressa a sua convicção de que os que já morreram só ganham vida em um acontecimento futuro – “naquele dia” – e, portanto, torna-se lógico o desejo do apóstolo em ver Onesíforo encontrar a misericórdia de Deus em um futuro distante, e não em consolar alguém com a ilusão de que este já estaria “na glória”, já tendo passado pelo juízo e alcançado a misericórdia de Deus.


A salvação do espírito é no Dia do Senhor “Entreguem esse homem a Satanás, para que o seu corpo seja destruído, e o seu espírito seja salvo no dia do Senhor (cf. 1Co.5:5). Essa é uma refutação de peso para a doutrina de que o espírito é salvo logo no momento da morte. O apóstolo Paulo ressalta que o homem que seria excomungado da Igreja (“entregue a Satanás”) de alguma forma poderia se voltar a Cristo e buscar a salvação para ser salvo. A pergunta que fica é: quando é que o espírito deste homem seria salvo? Quando ele morresse? Não, mas “no dia do Senhor”, que é claramente relacionado com a segunda vinda de Cristo.

Inúmeros versículos nos mostram que o “dia do Senhor” trata-se da Sua segunda vinda: “O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor (cf. At.2:20). Outras passagens que relacionam claramente o “dia do Senhor” que ainda está por vir com a segunda vinda de Cristo encontram-se nas epístolas de Paulo aos tessalonicenses: “Pois vós mesmos estais inteirados com precisão que o dia do Senhor vem como o ladrão de noite” (cf. 1Ts.5:2). E novamente ele afirma que o dia do Senhor é o momento da Sua segunda vinda: “A que não vos demovais da vossa mente, com facilidade, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como se procedesse de nós, supondo tenha chegado o dia do Senhor (cf. 2Ts.2:2).

O “dia do Senhor” não chegou ainda porque ele só acontece na segunda vinda de Cristo. Paulo, em todas as suas epístolas, compartilhava sua crença de que o dia do Senhor é relacionado à volta de Cristo. Pedro também compartilhava da mesma ideia ao escrever: “Virá, entretanto, como o ladrão, o dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas” (cf. 2Pe.3:10).

Vemos, portanto, que o “dia do Senhor” é uma clara referência à segunda vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, a Sua Volta gloriosa, e não ao momento da morte do homem a quem Paulo se refere. É no momento da segunda vinda de Cristo que o espírito será salvo, e não no momento da morte! Vale ressaltar sempre que é exatamente nesta segunda vinda que ocorre a ressurreição (cf. 1Co.15:22,23).

Se Paulo cresse que uma alma imortal deixasse imediatamente o corpo com a morte, levando consigo consciência e personalidade, então diria que o espírito seria salvo no momento da morte. Contudo, é claro o sentido do texto – o espírito é salvo “no dia do Senhor”, e não no dia de sua morte, o que nos revela ainda mais claramente a crença de Paulo de que a vida era somente a partir da ressurreição.

Sendo que é nos dito de modo claro que “o corpo seja destruído” [iria morrer corporalmente], o que esperaríamos na sequência, se existisse a imortalidade da alma, seria que o espírito seria salvo logo neste mesmo momento da morte, partindo imediatamente para junto de Deus. Contudo, Paulo faz questão de ressaltar que o espírito será salvo é “no dia do Senhor”, e não no dia da morte ou no mesmo momento exato da destruição corporal, porque é somente no dia do Senhor que ocorre a ressurreição para a vida.


Os filhos não foram revelados na glória ainda  – A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados” (cf. Rm.8:19). Se os filhos de Deus já estivessem na glória, então a natureza não estaria esperando nada, pois já estariam todos sendo sucessivamente revelados nas mortes de cada um! Veja que o verbo está no futuro: “sejam revelados”; e não: “estão sendo revelados” ou “foram revelados”! O que o apóstolo Paulo escreve vai frontalmente contra a doutrina de que “morremos e vamos para a glória celestial”, porque os filhos de Deus ainda nem sequer foram revelados.

A natureza está aguardando, isto é, ela está com “grande expectativa”, sabendo que os filhos de Deus não foram revelados, mas haverá um dia em que eles, finalmente, serão revelados. Essa é a expectativa que todo verdadeiro cristão deveria ter, centrado no glorioso dia da ressurreição dentre os mortos no qual os filhos de Deus serão finalmente revelados para a glória diante de Deus.

Alguém ainda poderia argumentar como é que podemos ter a completa certeza de que se trata realmente da ressurreição dos mortos. A resposta a isso está na própria continuação da passagem no seu contexto, que deixa tal interpretação ainda mais clara:

Romanos 8
19 A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados.
20 Pois ela foi submetida à futilidade, não pela sua própria escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança
21 de que a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus.
22 Sabemos que toda a natureza criada geme até agora, como em dores de parto.
23 E não só isso, mas nós mesmos, que temos os primeiros frutos do Espírito, gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa adoção como filhos, a redenção do nosso corpo.
24 Pois nessa esperança fomos salvos. Mas, esperança que se vê não é esperança. Quem espera por aquilo que está vendo?
25 Mas se esperamos o que ainda não vemos, aguardamo-lo pacientemente.

Paulo afirma que ele esperava com ansiedade o momento em que seremos adotados como filhos, e indica este momento na sequência: a redenção do nosso corpo! Uma clara referência à ressurreição dos mortos, quando este corpo corruptível se transformará em incorruptível e a nossa natureza mortal se revestirá de imortalidade. O que Paulo afirma é muito importante, pois a partir disso vemos que a expectativa de Paulo não era que sua alma deixasse o seu corpo rumando a um estado intermediário, mas estava totalmente centrada na ressurreição dos mortos.

Tal era a esperança dele, na qual ele diz que esperava ansiosamente (v.23). Quanta diferença para os dias de hoje em que a doutrina da imortalidade da alma fez com que a ressurreição se tornasse um mero detalhe desnecessário! É óbvio que esta é a esperança de Paulo porque é neste momento em que ele se veria na glória. Tal conclusão fica ainda mais forte quando vemos que é neste momento em que seremos adotados como filhos (v.23). Não é logo após a morte em um estado desencarnado, mas sim na “redenção do nosso corpo”, na ressurreição dos mortos.

Paulo nem imaginava que poderia ficar milênios no Paraíso em um “estado intermediário” sem ter sido adotado como filho ainda para só depois disso Deus finalmente adotá-lo como filho e só depois disso ele ser revelado. O foco todo é na ressurreição dos mortos, porque é somente neste momento que vem a adoção como filho na glória (v.23). Paulo segue uma lógica incontestável: os filhos de Deus ainda não estão revelados (v.19), a espera ansiosa era pela redenção do corpo (ressurreição - v.23), e a nossa adoção como filho é também somente na ressurreição (v.23)!

E Paulo ainda conclui: “é nessa esperança que fomos salvos” (v.24)! Qual é o contexto? Qual é a ênfase? Qual é o sentido lógico lendo-se todo o conjunto? É óbvio que Paulo sabia que o momento em que estaria na glória seria na ressurreição, quando finalmente seremos adotados como filhos. E era nessa esperança - da ressurreição - que ele vivia, e não na ilusão de uma vida em estado incorpóreo, antes de chegar qualquer "redenção do nosso corpo" e antes da nossa "adoção como filhos".

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)

Extraído de meu livro: "A Lenda da Imortalidade da Alma"


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