Desmistificando a lenda de uma alma imortal

24 de agosto de 2013

As referências ao "dormir" na Bíblia


Setenta e dois a zero – Mais uma das características que não pode passar despercebida é o uso tão frequente do “dormir” na Bíblia em contraste absoluto com uma vida consciente após a morte daqueles que já morreram. É uso mais do que frequente a figura do sono na Bíblia Sagrada para caracterizar os mortos. Por exemplo, ainda no Antigo Testamento, lemos no livro de Jó:

“O homem, porém, morre e fica prostrado; expira o homem, e onde está?” (cf. Jó 14:10). Sua resposta é: “Como as águas do lago se evaporam, e o rio se esgota e seca, assim o homem se deita, e não se levanta: enquanto existirem os céus não acordará, nem será despertado do seu sono” (cf. Jó 14:11-12).

Após fazer a pergunta de onde o homem se encontrava após a morte, Jó em nada indica que esse estivesse em algum mundo superior em perfeita atividade, muito pelo contrário, não seria despertado (para alguém despertar tem que estar em inatividade) e nem acordaria do seu sono até não haver mais céus. É evidente que a crença de Jó era que iria dormir no sepulcro até que Jesus o chamasse na manhã da ressurreição (cf. Jó 17:13-16; Jó 19:25-27).

Em absolutamente todas as vezes em que um rei é morto no AT, é citado que ele “descansa com os seus antepassados” (ver 1Rs.2:20; 1Rs.11:43; 1Rs.14:20; 1Rs.14:31; 1Rs.15:8; 1Rs.15:24; 1Rs.16:6; 1Rs.16:28; 1Rs.22:40; 1Rs.22:50; 2Cr.9:31; 2Cr.12:16; 2Cr.14:1; 2Cr.16:13; 2Cr.21:1; 2Cr.26:2; 2Cr.26:23; 2Cr.27:9; 2Cr.28:27; 2Cr.32:33; 2Cr.33:20; 2Cr.36:21, etc). No livro dos Salmos, também é constante a figura do sono como caracterização do estado dos mortos, como expressamente colocado no Salmo 13:3 - “Ilumina-me os olhos, para que eu não durma o sono da morte”.

Até Moisés (no Salmo 90) descreve a morte como um sono: “Tu os levas como uma corrente de água; são como um sono; de manhã são como a erva que cresce” (cf. Sl.90:5). O processo que Moisés descreve aqui no Salmo 90 é de um homem vivo que é “levado” (morre) como uma corrente de água, se tornando “como um sono” (na morte), e posteriormente, de manhã, como “a erva que cresce” (ressurreição). Esse estado entre a morte e a ressurreição não é descrito como um momento de vida assim como o estado anterior, mas de sono, um estado inconsciente sem lapso de tempo entre a morte e a ressurreição. Seria ridículo dizer aqui que Salomão não estava falando do destino humano real, mas apenas de um corpo.

A analogia nos faz crer que, realmente, o “sono” não indica nenhum estado consciente do ser racional na morte, porque ele diz no verso seguinte: “de madrugada floresce e cresce; à tarde corta-se e seca” (v.6). O ser humano é como a erva que de madrugada floresce e cresce e a tarde se corta e seca; ou seja, ele não permanece vivo eternamente em um estado desencarnado, mas é como a erva que depois de algum tempo já não existe. A analogia nos traz o “sono” como uma metáfora adequada para a inconsciência do ser racional na morte.

O Novo Testamento segue a mesma linha do Antigo simplesmente porque apresenta exatamente o mesmo ponto de pensamento holista do AT. O que muda no Novo é que a esperança da ressurreição bem como sua realidade é mais expressa e fortalecida pelo fato de que Cristo ressuscitou, sendo assim a primícia dos que dormem, dando-nos desta forma a confiança e segurança de que a esperança da ressurreição dos mortos na qual os apóstolos tanto esperavam e sustentavam não era vã (cf. At.26:6-8; 1Cor.15).

O estado dos mortos, porém, continuava o mesmo: dormindo. Paulo faz contínuas e inúmeras referências ao sono como o estado dos mortos (ver 1Co.15:6; 1Co.15:20; 1Co.15:51; 1Ts.4:13; 1Ts.4:14; 1Ts.4:15; 1Co.11:30; 1Co.15:6; 1Co.15:18; Ef.5:14, etc). Pedro também faz o mesmo uso da figura do sono, dizendo que “os pais dormem” (cf. 2Pe.3:4). Até Jesus Cristo classificou a morte como um sono inconsciente ao comparar com o estado de Lázaro, já morto:

“Isto dizia e depois lhes acrescentou: Nosso amigo Lázaro dorme, mas vou para despertá-lo do seu sono. Disseram-lhe, pois, os discípulos: Senhor, se dorme, estará salvo. Jesus, porém, falara com respeito à morte de Lázaro; mas eles supunham que tivesse falado do repouso do sono. Então, Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu (cf. João 11:11-14)

Em nenhum momento é referido a qualquer pessoa morta que esta já esteja com Cristo, ou com relação aos que “estão no Céu”, mas sempre é “os que dormem” (cf. 1Co.15:6; 15:20; 15:51; 15:6; 15:18; 11:30; 1Ts.4:13-15). A diferença entre essa terminologia e a teologia imortalista é tão gritante que isso reflete até os dias de hoje. Nas igrejas cristãs de hoje que adotam a doutrina da imortalidade da alma, o termo “dormir” (empregado por todos os escritores bíblicos do AT e do NT) desapareceu absolutamente das pregações. A moda é falar dos que “estão com Cristo” ou dos que “estão na glória”, mas nunca “dos que dormem”, reflexo da influência que a doutrina pagã da imortalidade da alma exerceu nos púlpitos.

Se você frequenta uma igreja que adota a doutrina da imortalidade da alma, responda sinceramente: quantas vezes você já ouviu o pastor da sua igreja dizendo que os mortos dormem? Eu posso responder perfeitamente a essa pergunta por experiência própria: nunca! Preferem dizer que os mortos “estão na glória” ou que “estão com o Senhor”, nunca dizem que “dormem”. Mas por que isso, já que tal termo é tão frequentemente utilizado na Bíblia inteira? Simplesmente porque deixaria entender que os mortos estão realmente inativos, inconscientes, como que “dormindo”! Melhor mesmo dizer que os mortos não estão de modo algum dormindo! Muito mais fácil dizer que eles já estão na glória, certo?

Se isso é assim hoje, agora imagine naquela sociedade do primeiro século em que os gentios recém-convertidos ainda não entendiam quase nada da doutrina recém criada dessa nova religião chamada “Cristianismo”, você diria a esses recém-convertidos que os mortos “dormem” se eles estivessem “bem acordados”? De jeito nenhum! Ninguém iria querer passar tão tremenda confusão aos seus leitores recém “cristianizados”. Se hoje esse termo bíblico desapareceu completamente nas igrejas que adotam a imortalidade é porque ele de fato não condiz com um estado consciente do ser humano na morte.

O termo bíblico simplesmente foi extinto pelas igrejas cristãs dualistas simplesmente porque não combina em absolutamente nada com o estado dos mortos que eles acreditam ser. Por isso, faz muito mais sentido repetir constantemente que as pessoas já estão no Paraíso como espíritos, ao invés de aplicarem o termo que a Bíblia insiste em aplicar sempre, que se relaciona ao sono da morte, e não a um estado consciente. Os pregadores se constrangem em pregar que os mortos “dormem”, porque sabem que esse termo sugere muito mais fortemente um estado inconsciente do que um estado consciente do ser humano na morte.

Ponderamos: se os escritores bíblicos também tivessem essa mesma mentalidade, persistiriam em usar tanto a linguagem do “sono” para os mortos, referindo-se àqueles que “dormem”, ao invés de fazerem uso do linguajar popular das igrejas de hoje? Iriam eles escrever inclusive a desconhecidos e a recém-convertidos epístolas inteiras onde o sono sempre é predominante na questão do estado atual dos mortos?

A total omissão de qualquer menção àqueles que apesar de mortos já estivessem vivos em algum lugar no Céu ou no inferno, bem como a total omissão dos termos “estão com Cristo” ou “estão na glória” (que poderiam ser perfeitamente utilizados e seria o mais aplicável para a doutrina imortalista, mas não aparecem em lugar nenhum da Bíblia), ainda mais quando vemos o foco da Igreja primitiva totalmente voltado à ressurreição dos mortos, nos leva a crer que, de fato, os escritores bíblicos não tinham qualquer ciência de que os mortos já estariam no Céu.

Se contarmos todas as vezes em que o “dormir” é aplicada com respeito ao estado dos mortos em contraste com o número de vezes em que a linguagem é de já estar no Céu ou de já estar com Deus, o placar arrasador é de 72 a 0. É difícil sustentar a ideia de que em 72 vezes eles se esqueceram de aplicar qualquer termo imortalista que é usado por todos eles hoje, sem dizer em momento nenhum que os mortos já estavam no Céu, mas se lembraram setenta e duas vezes do contrário.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)

Extraído de meu livro: "A Lenda da Imortalidade da Alma"


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Um comentário:

  1. Como é chocante esse comentário para aqueles cristãos que não querem conhecer a Verdade.

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