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Este artigo é a
continuação de “Refutando
os neo-gnósticos que negam a ressurreição da carne – Parte 1”
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No capítulo da
ressurreição, em 1ª Coríntios 15, Paulo também teria perdido uma ótima
oportunidade de dizer que a ressurreição física não existe, mas apenas uma
ressurreição espiritual, confirmando a incredulidade dos próprios coríntios; mas,
ao contrário, reiterou a crença ortodoxa cristã na ressurreição física dos
mortos. Isso porque alguns dentre os coríntios estavam pensando que não existia
ressurreição física:
“Ora, se se
prega que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como dizem alguns dentre vós que
não há ressurreição de mortos?” (cf. 1ª
Coríntios 15:12)
Como vemos,
alguns falsos mestres na Igreja de Corinto estavam pervertendo a fé dos outros,
ensinando que a ressurreição física não existe, assim como criam os gregos de
sua época e posteriormente vieram as crer os gnósticos. Paulo passa, então,
todo o capítulo refutando tal visão deturpada que tais hereges tinham. Brian
Schwertley fala sobre isso nas seguintes palavras:
“Os versículos 35-58 indicam
que os falsos mestres em Corinto aparentemente estavam opondo-se ao aspecto
corporal da ressurreição. Apesar de não sabermos o que especificamente causou a
rejeição de uma ressurreição corporal, é provável que seja por causa da
influência da filosofia grega, talvez juntamente com o seu conceito pervertido
da espiritualidade. À luz de 1ª Coríntios 6.13 é provável que eles consideravam
a salvação do corpo como desnecessária; que o corpo físico acabaria por ser
destruído. Porque eles viam o corpo físico como inferior e desnecessário, assim
redefiniram a futura ressurreição de uma maneira puramente espiritual. É por
esta razão que 1ª Coríntios 15 é um texto bem adequado para refutar o preterismo
completo”[1]
Os neo-gnósticos
são obrigados aqui a interpretarem a ressurreição de que Paulo fala como sendo
uma ressurreição meramente espiritual,
como um “nascer de novo”, o que mutila todo o contexto. Se a ressurreição aqui
se tratasse meramente de uma espiritual, mas não física, Paulo não teria usado
o caso da ressurreição física de
Jesus dentre os mortos para basear a crença da ressurreição de que ele fala em
todo o capítulo:
“E, se não
há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não
ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (cf. 1ª Coríntios 15:13-14)
Fica nítido que a
ressurreição que o capítulo trata é a ressurreição física, e não uma ressurreição meramente espiritual, ou senão a
própria ressurreição de Jesus seria meramente espiritual e não-física! Jesus
nunca teria ressuscitado dos mortos! Quanto a isso, Schwertley diz:
“Paulo mais
uma vez vê o que os outros, aparentemente, não conseguiram ver: a ressurreição,
em geral, não pode ser negada sem finalmente avançar para uma negação também da
ressurreição de Cristo. Ambos permanecem e caem juntos (...) O argumento do
apóstolo seria inválido se a ressurreição dos santos fosse definida de uma
maneira completamente diferente da ressurreição do Redentor. Paulo está dizendo
que se não há plural A, então não
pode haver singular A. Se definirmos
a ressurreição dos santos como meramente uma experiência espiritual ou uma metáfora
para um avivamento do Israel étnico, então Paulo está comparando maçãs com
laranjas. Ele estaria dizendo que se não há plural
B, então não pode haver singular A”[2]
E Paulo segue o mesmo raciocínio nos versos 22 e 23:
“Porque,
assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em
Cristo. Mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de
Cristo, na sua vinda” (cf. 1ª Coríntios
15:22,23)
Aqui ele claramente refuta
a crença de que a ressurreição se refira a um acontecimento espiritual e
particular na vida de cada crente, porque situa a ressurreição de todos os que estão em Cristo para a Sua
segunda vinda. Mais uma vez Schwertley faz ótimas observações a este respeito:
“Não é, então, uma liberdade
muito ousada com a Palavra de Deus ao dizer que apenas uma parte fracionária de
‘os que são de Cristo’ são aqui
falados? Que haverá aos milhões de ‘os
que são de Cristo’, que não serão ‘ressuscitados
na sua vinda’, mas permanecem em seu estado mortal e sem glória sobre a
terra por pelo menos mil anos depois? Aqui, pelo contrário, encontramos a
geração toda do segundo Adão sendo vivificados juntos na sua vinda”[3]
Corrobora com isso também o fato de que Paulo usou o
termo grego tagmati, traduzido por
“ordem” no verso 23, que é uma metáfora militar, referindo-se a todo o corpo de
uma tropa. O que o apóstolo quis dizer com isso é que quando Jesus voltar “todos os corpos dos crentes de toda a história humana ressuscitarão como tropas que saem
juntos para assumir uma posição adequada de ordem em torno de seu líder. A
expressão ‘os que são de Cristo’ (hoi
tou Kristou) é abrangente. Refere-se a todo o corpo dos eleitos”[4]. Não é, portanto,
um cenário de infindáveis ressurreições espirituais sucessivas para cada
indivíduo em vários momentos na história da humanidade que Paulo tinha em
mente, mas sim de um momento específico, a parousia
(volta de Jesus), quando todos os mortos em Cristo ressuscitarão num mesmo
instante.
Ademais, Paulo prossegue o capítulo falando sobre com que
tipo de corpos que os mortos
ressuscitarão (cf. 1Co.15:35). Isso seria incoerente se fosse apenas uma
ressurreição não-física, não-corporal, mas meramente espiritual. Nós somos ressuscitados
espiritualmente em vida, como disse o próprio Paulo (cf. Cl.3:1), então
dizer com que corpos que os mortos
ressuscitarão no futuro é algo
simplesmente sem qualquer sentido na visão gnóstica. Paulo, em seguida, passa a
refutar as objeções daqueles falsos mestres em Corinto que duvidavam da
ressurreição, chamando-os de “insensatos”:
“Mas alguém dirá: Como ressuscitarão os
mortos? E com que corpo virão? Insensato!
o que tu semeias não é vivificado, se primeiro não morrer. E, quando
semeias, não semeias o corpo que há de nascer, mas o simples grão, como de trigo,
ou de outra qualquer semente. Mas Deus dá-lhe o corpo como quer, e a
cada semente o seu próprio corpo”
(cf. 1ª Coríntios 15:35-38)
A palavra aqui traduzida por “insensato”
vem do grego aphrosune, que, de
acordo com a Concordância de Strong, significa: “tolice,
estupidez, insensatez”[5]. Paulo chamou tais falsos mestres de tolos, estúpidos ou
insensatos não sem razão, mas porque eles estavam colocando incredulidade
acerca da realidade da ressurreição naquela igreja. E, na sua descrença de que
a ressurreição física pudesse acontecer, desafiavam com perguntas difíceis,
tais como a que Paulo teve que responder, sobre como ressuscitarão os mortos e
com que tipo de corpo virão. Como Paulo cria na ressurreição da carne, ele não
apenas respondeu a estes falsos mestres, como também criticou severamente a
insensatez deles.
Isso lembra muito a discussão
que o próprio Senhor Jesus teve sobre esse mesmo tema, a ressurreição física
dos mortos, quando os saduceus, que não creem na ressurreição, tentaram lhe
provar com uma pergunta difícil, dizendo-lhe:
“No mesmo
dia chegaram junto dele os saduceus, que
dizem não haver ressurreição, e o interrogaram,
dizendo: Mestre, Moisés disse: Se morrer alguém, não tendo filhos, casará o seu
irmão com a mulher dele, e suscitará descendência a seu irmão. Ora,
houve entre nós sete irmãos; e o primeiro, tendo casado, morreu e, não tendo
descendência, deixou sua mulher a seu irmão. Da mesma sorte o segundo, e
o terceiro, até ao sétimo; por fim, depois de todos, morreu também a
mulher. Portanto, na ressurreição, de qual dos sete será a mulher, visto
que todos a possuíram? Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o
poder de Deus. Porque na ressurreição nem casam nem são dados em
casamento; mas serão como os anjos de Deus no céu” (cf. Mateus 22:23-30)
Aqui
obviamente o assunto era a ressurreição física, a qual não era crida pelos saduceus,
mas era crida por Jesus. Este, ao invés de responder simplesmente que também
não cria em uma ressurreição da carne, lhes refuta, porque não compartilhava
da descrença deles. Não há espaço aqui para a crença de que a ressurreição se
resume a uma ressurreição espiritual em vida, pois o assunto é a vida após a
morte que se consuma na ressurreição, o que fica nítido no versos 28 e 30. Os saduceus
não criam nessa ressurreição física para uma outra vida, mas Jesus sim. A
resposta de Jesus contradizendo os fariseus foi tão forte ao ponto que “a multidão ficou maravilhada com o seu
ensino” (cf. Mt.22:33).
Paulo, da mesma forma que
Jesus, foi desafiado por falsos mestres que não criam na ressurreição da carne.
Mas, dessa vez, o desafio foi outro: sobre com que tipo de corpo virão. Ele,
então, passa a fazer uma analogia apropriada com as sementes (vs. 36-39),
que não faria sentido caso não houvesse a ressurreição de um corpo físico,
pois, como diz Geisler, “a semente que vai para a terra produz mais
sementes da mesma espécie, não sementes imateriais. É nesse sentido que Paulo pôde
dizer: ‘não semeias [não fazes morrer] o corpo que há
de ser’, já que ele é imortal e não pode morrer. O
corpo ressuscitado é diferente por ser imortal (1 Co 15:53), não por ser um
corpo imaterial”[6].
Nem mesmo o verso 44, em
que Paulo diz que ressuscitaria um “corpo espiritual”, serve de apoio para as
teses gnósticas, visto que por “corpo espiritual” ele não quis dizer “corpo
imaterial”, mas sim um corpo sobrenatural.
A mesma expressão grega aqui traduzida por “espiritual” (pneumotikos) também é várias vezes usada por Paulo em suas
epístolas para se referir a coisas
físicas, tais como a “rocha espiritual”
(cf. 1Co.10:4) que seguia os israelitas no deserto, que nada mais era senão uma
rocha física, produzida de forma
sobrenatural – por isso “espiritual”. A Lei de Moisés foi chamada por Paulo de “lei espiritual” (cf. Rm.7:14), embora fosse
física, escrita em tábuas, e não imaterial. Paulo também falou sobre o “homem espiritual” (cf. 1Co.2:15), que obviamente
não é um homem não-físico, mas alguém dirigido pelo Espírito Santo. Norman
Geisler e Thomas Howe acrescentam:
“Um corpo ‘espiritual’
é um corpo imortal, não um corpo imaterial. Um corpo ‘espiritual’
é aquele que é dominado pelo espírito, não um corpo desprovido de matéria. A
palavra grega pneumatikos (nessa passagem traduzida como ‘espiritual’)
significa um corpo dirigido pelo espírito, em oposição ao que está sob o
domínio da carne. Ele não é governado pela carne que perece, mas pelo espírito
que permanece (1 Co 15:50-58). Assim, ‘corpo
espiritual’ não significa corpo imaterial e invisível, mas
imortal e imperecível (...)
Todo o contexto indica que ‘espiritual’
(pneumatikos) poderia ser traduzido por ‘sobrenatural’
em contraste com ‘natural’. Isto
fica claro pelos paralelos de ‘corruptível’
e ‘incorruptível’, ‘imortal’
e ‘imortal’. Com
efeito, esta mesma palavra grega (pneumatikos) é traduzida como ‘sobrenatural’
em 1 Coríntios 10:4, que fala de uma rocha sobrenatural ‘que
os seguia’ no deserto”[7]
Finalmente, Paulo fulmina
o gnosticismo nos versos 51 ao 53, dizendo:
“Eis aqui
vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos
transformados; num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última
trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e
nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista
da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade” (cf. 1ª Coríntios 15:51-53)
Como Paulo poderia não
crer em uma ressurreição física, se ele cria que os mortos serão transformados
em imortais e incorruptíveis num momento,
em um abrir e fechar de olhos, e somente na última trombeta, no mesmo momento
em que os salvos serão transladados vivos? Se a ressurreição fosse meramente espiritual
para cada crente e não existisse uma ressurreição física geral dos mortos no
último dia, tal coisa não ocorreria somente ao soar da última trombeta, mas em
diferentes épocas ao longo de toda a história da humanidade para cada crente em
particular, e não seria um evento único que ligaria os vivos e os mortos por
ocasião da parousia.
Além disso, não haveria o
contraste entre os mortos e os vivos, pois todos os que espiritualmente
ressuscitariam teriam sua ressurreição consumada em vida. E nunca a nossa
natureza corruptível seria transformada em uma natureza incorruptível, nem a
mortalidade se revestiria de imortalidade, pois sendo essa ressurreição espiritual
e ocorrendo em vida quando o pecador se converte ele não se transforma em
incorrupto e imortal por causa disso e naquele mesmo momento. Tudo aquilo que
Paulo dizia não passaria de uma farsa, um engano, a maior mentira de todos os
tempos.
A não ser que Paulo e os
demais cressem que, de fato, Cristo ressuscitou fisicamente e que isso garante a nossa própria ressurreição física, pois o que eles tanto pregavam
era a ressurreição da carne, e não uma fantasia inventada pelos gnósticos
completamente diferente daquilo que Cristo e os apóstolos ensinaram, e que “não é melhor do que a doutrina dos modernistas, ateus ou
filósofos gregos, negando a ressurreição por redefinição”[8].
Paz a todos vocês que
estão em Cristo.
Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)
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- Preterismo em Crise (Refutando o Preterismo Parcial e Completo)
[1]
SCHWERTLEY, Brian, apud RAYMUNDO, César Francisco. Refutando o preterismo completo. Santa Catarina: 2012, p. 95.
Disponível em: <http://www.revistacrista.org/Literaturas/Refutando%20o%20Preterismo%20Completo.pdf>.
Acesso em: 21/08/2013.
[2]
ibid., pp. 96-97.
[3]
ibid., p. 99.
[4]
ibid., p. 98.
[5] Léxico
da Concordância de Strong, 877.
[6] GEISLER,
Norman; HOWE, Thomas. Manual popular de
dúvidas, enigmas e 'contradições' da Bíblia. São Paulo: Editora Mundo
Cristão, 1999.
[7]
ibid.
[8] [8]
SCHWERTLEY, Brian, apud RAYMUNDO, César Francisco. Refutando o preterismo completo. Santa Catarina: 2012, p. 97. Disponível
em: <http://www.revistacrista.org/Literaturas/Refutando%20o%20Preterismo%20Completo.pdf>.
Acesso em: 21/08/2013.
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