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A Parábola do rico e do Lázaro
Um argumento bastante usado pelos dualistas é que não se trata de uma parábola, pois ela possui nomes. Ora, isso é totalmente compreensível pelo fato de que os judeus colocavam Abraão acima de Jesus: “Nosso pai é Abraão ... És maior do que o nosso pai Abraão ... ?” (cf. Jo.8:39,53; Mt.3:9). O que simplesmente Jesus faz é por na boca Abraão exatamente as palavras que ele de ter dito em pessoa: “Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tão pouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos” (cf. Lc.16:29-31).
Para isso é evidente que tem citar nomes. Além disso, não há absolutamente nenhuma regra que obrigue que uma parábola não tenha nomes. Jesus contou parábolas sem dizer para as pessoas: “Isso é uma parábola”...! A parábola do rico e do Lázaro ficaentre parábolas, como podemos ver a seguir:
CAP.14 DE LUCAS - A PARÁBOLA DA GRANDE FESTA
CAP.15 DE LUCAS - A PARÁBOLA DA OVELHA PERDIDA
CAP.15 DE LUCAS - A PARÁBOLA DA MOEDA PERDIDA
CAP.15 DE LUCAS - A PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO
CAP.16 DE LUCAS - A PARÁBOLA DO ADMINISTRADOR DESONESTO
CAP.16 DE LUCAS - A ******** DO RICO E DO LÁZARO
CAP.17 DE LUCAS - A PARÁBOLA DO EMPREGADO
CAP.18 DE LUCAS - A PARÁBOLA DA VIÚVA E DO JUIZ
Nisso fica claro que a história tratava-se realmente de uma parábola. A parábola diz que "Havia também certo mendigo, chamado Lázaro, coberto de chagas, que jazia à porta daquele; e desejava alimentar-se das migalhas que caiam da mesa do rico; e até os cães vinham lamber as úlceras" (cf. Lc.16:20,21). Igualmente, vemos que o homem rico da parábola não era apenas rico, mas vaidoso e se vestia do melhor daquilo que podia usufruir: "Púrpura e linho finíssimo" (cf. Lc.16:19). Ele “todos os dias se regalava esplendidamente” (cf. Lc.16:19), ou seja, era de absolutamente alta classe.
Ponderamos: onde é que você já viu um banquete de alta classe de um rico que permitisse que um mendigo cheio de chagas ficasse sentado à sua porta, e que, além disso, ainda deixava que comesse das migalhas de sua mesa? Se isso já é uma possibilidade altissimamente improvável nos nossos dias, isso era completamente impossível de acontecer naquela sociedade judaica.
O rico de jeito nenhum iria vir a permitir que os seus visitantes (também ricos tais como ele) passarem pela porta com um mendigo, que, além disso, ainda estava coberto de chagas, em uma doença contaminosa, possivelmente a própria lepra, comum naqueles dias. Isso faz a personalidade de um judeu rico daquela época (muito menos um que teria sido mandado para o inferno em seguida). Como se esse cenário não fosse suficientemente improvável, ainda vemos que também cachorros que lambiam as suas chagas! Quando vemos tal cenário, vemos que isso era impossível!
Tratava-se somente de uma história que Jesus criou do mesmo modo que ele criou outras histórias (parábolas) com uma lição moral a ser dela retirada. E, de fato, Cristo tinha um ponto muito importante para chamar a atenção de seus ouvintes, como veremos mais adiante. Para isso ele usava uma parábola, como é a do rico e do Lázaro. Cristo não precisava dizer: “Olha, gente, isso é uma outra parábola”; pelo simples fato de que ele “nada lhes dizia sem usar alguma parábola” (cf. Mt.13:34).
Em Lucas 12:41 os seus discípulos interpretaram um ensinamento de Cristo como sendo uma parábola, mas em lugar nenhum vemos Cristo dizendo que aquilo era uma parábola (ver Lc.12:35-41). Os seus discípulos sabiam que ele lhes falava por meio de parábolas, e não precisavam questioná-lo quanto a isso, muito menos quando tal história localiza-se exatamente no meio de outras histórias parabólicas!
O mesmo quadro ocorre em Mateus 7:17 quando os seus discípulos interpretam os seus ensinos como sendo uma parábola (cf. Mt.7:15-17), embora em lugar nenhum ele [Jesus] tenha feito qualquer questão de mencionar que aquilo tratava-se realmente de uma parábola.
Em Mateus 15:14, Pedro identifica um ensinamento de Cristo como sendo uma parábola, embora em lugar nenhum ele [Cristo] tenha feito questão de ressaltar que aquilo era mesmo uma parábola, e em Lucas 6:39 o evangelista conta o mesmo ensinamento mas omite que aquilo tratava-se factualmente de uma parábola. Do mesmo modo, em Lucas 5:36, o autor diz que Cristo aplicava uma parábola aos seus seguidores, mas em Marcos 2:21 a mesma história aparece sem qualquer menção de estar ligada a uma parábola.
Tudo isso nos faz ter a certeza de que, realmente, Jesus ensinava aos seus seguidores por meio de parábolas, que não tem qualquer necessidade de serem mencionadas como tal. Se até mesmo nestes contextos os seus discípulos sabiam que aquilo era parábola, quanto mais quando vemos que tal história parabólica está exatamente entre várias outras parábolas que Jesus estava contando!
Ademais, veremos que o rico possui um corpo físico com língua e todos os outros membros. Que “espírito” mais diferente esse! Não, irmãos, tratava-se de mera parábola assim como as outras, que possuem um ensinamento moral no significado de cada elemento, mas nunca – jamais – pode ser fundamentada como regra de doutrina pelos seus meios parabólicos.
Parábolas não tem meios literais - É mais especificamente neste ponto que colocamos um “fim” na superstição de que existe um estado intermediário das almas porque os meios de uma parábola tem que ser literais. É aí que muita gente se engana:Parábolas não necessitam de meios literais, ao contrário, apresenta uma finalidade verdadeira. Uma prova muito forte disso é o simples fato de que Jesus contou muitas parábolas, e se fôssemos tomar literalmente todos os meios que ele usa, iríamos encontrar inúmeros “absurdos”.
Por exemplo: Neste mesmo contexto da parábola do rico e Lázaro há a parábola do administrador desonesto (cf. Lc.16:1-12). Veja o que o v.8 diz: “O senhor elogiou o administrador desonesto, porque agiu astutamente. Pois os filhos deste mundo são mais astutos no trato entre si do que os filhos da luz” (cf. Lc.16:8). Analisando a parábola literalmente, poderíamos chegar a infeliz conclusão de que Cristo aprovava a administração desonesta.
Contudo, ele não estava incentivando a prática de administração desonesta, até mesmo porque em parte alguma a Bíblia aprova tal prática, mas a lição moral da parábola não é sobre administrar desonestamente (cf. Lc.16:9). Os meios da parábola não são reais e não influenciam na sua lição moral!
Do mesmo modo, Jesus contou uma parábola sobre o dever sobre o dever de orar sempre e não desfalecer (cf. Lucas 18:1-8). Nela, o juiz (que representa Deus, aquele que atende as nossas orações) é tratado como “um homem mau que nem ao homem respeitava” (cf. 18:2).
É óbvio que o que Cristo queria realmente ensinar não era que Deus é um homem mau, mas sim que se até um homem mal atende aos nossos pedidos, quanto mais atenderá o nosso Pai que está no Céu (que não é mau coisa nenhuma, mas poderíamos chegar a essa conclusão caso tomássemos os meios dessa parábola como reais). Em outra parábola, Deus é retratado como “um homem severo que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste” (cf. Mt.25:24). Tal noção, contudo, não condiz nem um pouco com o verdadeiro caráter de Deus!
Tome também, por exemplo, outro meio de parábola contada por Cristo: “Então o senhor disse ao servo: Vá pelos caminhos e valados e obrigue-os a entrar, para que a minha casa fique cheia” (cf. Lc.14:23). Ora, será que as pessoas são forçadas a entrar no Céu, sendo obrigadas a isso? É claro que não, pois Deus nos concedeu o livre-arbítrio. Ninguém é obrigado ou forçado por Deus a ser salvo, pois a salvação é algo que implica em perseverança [nossa] até o fim (cf. Mt.24:13). Evidentemente as parábolas não tem meios literias; jamais podemos fundamentar uma doutrina bíblica sustentada por meios de parábolas.
Ora, se fôssemos literalizar a parábola de Lucas 16 (do Rico e do Lázaro), então também deveríamos literalizar todas as outras parábolas também, certo? Afinal, por que a parábola do rico e Lázaro teria que ser exatamente a exceção a regra? Será que é porque somente deste jeito que os imortalistas conseguem sustentar a doutrina da imortalidade da alma baseando-se em tal parábola?
Ora, se fôssemos literalizar a parábola encontraríamos, como vimos, uma série de problemas e contradições de primeira ordem à frente. As parábolas não podem jamais serem tomadas literalmente pelos seus meios, pois se fosse assim deveríamos chegar à infeliz conclusão de que Deus é um juiz mau e que não respeita ao homem; que é um homem severo que planta aonde não semeou, e que aprova a prática de administração desonesta!
É óbvio que Deus não é nenhuma dessas coisas porque as parábolas nunca podem ser tomadas literalmente – em circunstância nenhuma – mas devemos retirar delas a sua lição moral. O mesmo deve ser dito também com relação à parábola do Rico e do Lázaro. Qual é a sua lição moral? Ela se encontra no verso 31:
“Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tão pouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos” (cf. Lc.16:31)
Veja que a lição moral da parábola em nada tem a ver com a imortalidade da alma, pelo contrário, tem relação com a incredulidade dos fariseus em rejeitarem os ensinamentos de Cristo – nem sequer uma ressurreição os faria persuadir. Quando tratamos de descrições bíblicas claras e reais (não em textos parabólicos ou simbólicos), os meios são necessariamente reais e literais ao todo.
Contudo, isso não acontece quando estamos tratando de uma parábola. Parábola não necessita de meios reais, mas sim de finalidades reais. O principal problema daqueles que pregam a alma imortal é não saberem ao certo o que é uma parábola:
PARÁBOLA
Acepções
■substantivo feminino
1 narrativa alegórica que transmite uma mensagem indireta, por meio de comparação ou analogia
1.1 narrativa alegórica que encerra um preceito religioso ou moral, esp. as encontradas nos Evangelhos
Ex.: a p. do filho pródigo
Vamos ver o significado de alegoria:
ALEGORIA
Acepções
■substantivo feminino
modo de expressão ou interpretação us. no âmbito artístico e intelectual, que consiste em representar pensamentos, ideias, qualidades sob forma figurada e em que cada elemento funciona como disfarce dos elementos da ideia representada.
Como o próprio dicionário atesta, parábolas são estórias de ficção, que Jesus frequentemente empregava para ensinar alguma coisa aos seus ouvintes. Parábolas não são e nem nunca foram histórias contadas com a intenção de passar meios reais. Se fosse assim, não faria uso de uma parábola.
Parábola é quando o autor utiliza-se de meios ou cenários quaisquer, sem a obrigatoriedade de serem verdadeiros ou literais, para ensinar uma lição moral por finalidade, mediante metaforização ou personificação característicos de uma parábola, como é o caso da conversa entre árvores em 2 Reis 14:9.
Isso nós podemos ver ao longo de várias parábolas contadas por Cristo, que claramente não são fatos reais – são parábolas. Por exemplo, é extremamente improvável que houvesse um homem que vendeu todos os seus bens para comprar a pérola de grande valor (cf. Mt.13:46), pois isso não faria sentido. Também não houve um administrador infiel elogiado pelo seu Senhor (cf. Lc.16:8).
Igualmente, Cristo também afirmou sobre ter de arrancar os olhos ou cortas pernas ou braços para entrar no Reino dos céus. Ora, será que no Reino haverá caolhos, manetas e pernetas – tudo isso literalmente? É claro que não. Tudo isso é obviamente uma linguagem altamente metáfora, tanto quanto a parábola do rico e do Lázaro.
Mais ainda do que isso, uma outra prova fatal que nos faz concluir que Cristo não estava como finalidade dado uma aula sobre o estado dos mortos, é o fato de que nem mesmo as palavras “alma-psiquê” ou “espírito-pneuma” aparecem na nesta parábola. Pelo contrário, o rico possuía um corpo físico com dedo, língua e que sente calor e pede água para matar a sede (cf. Lc.16:24). A própria sede é uma característica do corpo, e não de um espírito “imaterial”, “fluídico”.
Um espírito desprovido de corpo não tem nada disso, e a Bíblia diz que nós só teremos um corpo novamente após a ressurreição dentre os mortos (cf. 1Co.15:42-44). Jesus disse claramente que um espírito não tem nem carne e nem ossos (cf. Lc.24:39).
Ora, Cristo se enganou dizendo que o rico possuía língua no Hades ou o corpo dos personagens foram parar no Hades por engano? Nenhuma das duas, era mera parábola: não exigia meios reais! Se o objetivo de Cristo ao contar esse parábola fosse exatamente anunciar a imortalidade da alma, então seria completamente indispensável a menção de “almas” ou de “espíritos” deixando o corpo e partindo para o “além”.
Contudo, os personagens ali citados vão com os seus corpos e tudo mais para o Hades, e ainda sentem sede, um sentimento característico do corpo, pois um espírito não pode sentir sede. Tudo nos mostra que o que aconteceu foi a personificação de personagens inanimados e, por este motivo, não eram os “espíritos” que desciam ao Hades, mas sim os próprios corpos.
Como bem assinalou o doutor Samuelle Bacchiocchi:
“Os que interpretam a parábola como uma representação literal do estado dos salvos e perdidos após a morte defrontam problemas insuperáveis. Se a narrativa for uma descrição real do estado intermediário, então deve ser verdadeiro em fato e coerente em detalhe. Contudo, se a parábola for figurada, então somente a lição moral a ser transmitida deve nos preocupar. Uma interpretação literal da narrativa se despedaça sob o peso de seus próprios absurdos e contradições, como se torna evidente sob exame detido” [“Immortality or Resurrection?”]
E a “confusão” não para por aqui: O rico pede que joguem um pingo água para molhar a sua língua, enquanto ele queimava em meio às chamas! Além da sede literal (por água) ser uma característica corporal (e não de um “espírito”, como anjos ou demônios, por exemplo), de que serviria um “dedo” molhado “em água” para aliviar tamanhos rigores extremos de um fogo devorador e literalmente verdadeiro que o rico estaria passando naquele exato momento e também por toda a eternidade?
Ademais, a própria parábola diz que havia um abismo muito grande entre ambas as partes, motivo pelo qual o rico não podia ser molhado com água. Contudo, ele conversava com Abraão como se estivesse face-a-face com ele! Ora, se ele conversava tão perfeitamente com Abraão, então ele também poderia perfeitamente ser molhado com água, pois a distância assim o permitiria.
E será possível compreender absolutamente o que cada pessoa da cena diz sendo que neste mesmo cenário havia um barulho horrivelmente aterrorizante de fogo em atividade e milhões ou bilhões de pessoas queimando e gritando aos prantos naquele mesmo momento? Quem iria compreender o que alguma pessoa fala em tal cenário? Como se tudo isso não fosse suficientemente claro, será que no Reino poderemos conversar com os não-salvos enquanto eles queimam em meios às chamas?
Pois, pela parábola, tal comunicação entre os salvos e os não-salvos seria perfeitamente possível (e até “provável”). Poderíamos, caso tomássemos os meios da parábola como literais, ver e conversar com os nossos parentes não-salvos enquanto eles queimam no inferno! Ora, bater papo com alguém nestas condições e neste cenário, é uma terrível falta de bom senso. Os que não forem salvos jamais poderão se unir novamente com os que forem salvos (por meio de uma conversa, por exemplo), pois a morte significa a separação total entre ambos os grupos. É isso o que também é ilustrado nesta parábola.
Não, meus amigos, definitivamente não foi o estado dos mortos que foi ilustrado nesta parábola; não houve nenhuma descrição de “estado intermediário” algum, mas apenas e tão-somente a personificação de personagens inanimados ganhando vida (típico de parábola), em um cenário corrente na época, como veremos mais a seguir. Com toda a clareza, os imortalistas que insistirem em admitir a parábola do rico e Lázaro como sendo “prova” do dualismo platônico na Bíblia, encontrarão dilemas incontestáveis pela frente, e, por fim, acabaria por desacreditar nela.
II–O Significado da Parábola
Voltando à parábola - Já vimos que a parábola não pode ser analisada literalmente. Vários fatores corroboram para isso, incluindo o fato de que os personagens possuem corpos reais, com língua, dedo, sentimento de sede, o local onde a parábola se passava e outras parábolas que claramente também não necessitam de meios reais. Observe esta outra parábola bíblica:
“Porém Jeoás, rei de Israel, enviou a Amazias, rei de Judá, dizendo: O cardo que está no Líbano enviou ao cedro que está no Líbano, dizendo: Dá tua filha por mulher ao meu filho; mas os animais do campo que estavam no Líbano, passaram e pisaram o cardo” (cf. 2 Reis 14:9). Analisando literalmente (assim como fazem com a parábola do Lázaro), cardo e cedro (que são árvores) falam. Creio que a maioria das pessoas concorde que as árvores não falem.
São parábolas, e parábolas são metáforas, alegoria, estória, ficção, que não podem ser classificadas literalmente. Se pretendêssemos usar as parábolas literalmente, deveríamos – usando a mesma lógica que os imortalistas fazem com a parábola do Lázaro – dizer que as árvores também falam e fundamentarmos isso como doutrina. Felizmente, parábolas não são relatos literais, e sim metáforas com uma lição moral.
Sendo assim, as árvores (realmente) não falam. É evidente que cada elemento na parábola acima de 2 Reis tinha o seu devido significado e a sua devida lição moral.Nada mais que dois reis: O de Judá (Amazias), e o de Israel (Jeoás); são personificados pelas árvores. Jeoás compôs a parábola para Amazias.
Este não a atendeu (cf. 2 Reis 14:11), e por isso, o povo do “cardo” (Amazias) foi ferido pelos “animais do campo” (exército do “cedro” – Jeoás). A lição não era que as árvores falam, mas sim uma mensagem aos que lessem a metáfora a partir da personificação de personagens inanimados. A mesma linguagem vemos em várias outras partes da Bíblia:
“Foram uma vez as árvores a ungir para si um rei; e disseram à oliveira: Reina tu sobre nós. Mas a oliveira lhes respondeu: Deixaria eu a minha gordura, que Deus e os homens em mim prezam, para ir balouçar sobre as árvores? Então disseram as árvores à figueira: Vem tu, e reina sobre nós. Mas a figueira lhes respondeu: Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto, para ir balouçar sobre as árvores? Disseram então as árvores à videira: Vem tu, e reina sobre nós. Mas a videira lhes respondeu: Deixaria eu o meu mosto, que alegra a Deus e aos homens, para ir balouçar sobre as árvores? Então todas as árvores disseram ao espinheiro: Vem tu, e reina sobre nós. O espinheiro, porém, respondeu às árvores: Se de boa fé me ungis por vosso rei, vinde refugiar-vos debaixo da minha sombra; mas, se não, saia fogo do espinheiro, e devore os cedros do Líbano” (cf. Juízes 9:8-15)
Novamente, a lição não era que as árvores ou os espinheiros falem ou dialoguem entre si. Tudo não passava de mera parábola em que as oliveiras, a figueira e a videira representavam aqueles que não quiseram reinar sobre as “árvores” (povo de Siquém).
As mais valiosas árvores do Oriente Médio aqui simbolizam os homens principais de Siquém, e o espinheiro era um arbusto farpado comum nas colinas da Palestina e representava apropriadamente Abimeleque, que nada produzia de valor. Os meios eram puro simbolismo e representação comum na Bíblia Sagrada; não eram verdades literais porque nem árvores, nem cedros, nem cardos, nem oliveiras, nem figueiras, nem videiras e nem espinheiros falam!
É óbvio que a única coisa que devemos tirar como verdade literal é a sua lição moral, e não os seus meios. O mesmo deve ser dito com relação à parábola do Lázaro, em que houve uma personificação, vivificação dos personagens ali apresentados (Lázaro, o rico e Abraão) bem como uma metaforização do cenário (Hades) que, como vimos, é puramente sepultura. É comum a Bíblia personificar personagens inanimados.
A PERSONIFICAÇÃO BÍBLICA DE PERSONAGENS INANIMADOS
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1
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“Foram uma vez as árvores a ungir para si um rei; e disseram à oliveira: Reina tu sobre nós” (cf. Juízes 9:8-15)
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2
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“O cardo ... mandou dizer ao cedro ... Dá tua filha por mulher a meu filho” (cf. 2 Reis 14:9)
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3
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“Disseram então as árvores à videira: Vem tu, e reina sobre nós” (cf. Juízes 9:12)
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4
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“Porque a pedra clamará da parede, e a trave lhe responderá do madeiramento” (cf. Habacuque 2:11)
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5
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“Se eles se calarem, as próprias pedras clamarão” (cf. Lucas 10:40; Mateus 3:9)
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6
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“O ouro e a prata de vocês enferrujaram, e a ferrugem deles testemunhará contra vocês e como fogo lhes devorará a carne” (cf. Tiago 5:3)
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7
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“A voz do sangue do teu irmão clama da terra a mim” (cf. Gênesis 4:10)
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8
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“Quando ele bradou, os sete trovões falaram” (cf. Apocalipse 10:3)
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9
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“Ao sangue aspergido, que fala melhor do que o sangue de Abel” (cf. Hebreus 12:24)
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10
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“E ouvi o altar responder: Sim, Senhor Deus todo-poderoso, verdadeiros e justos são os teus juízos” (cf. Apocalipse 16:7)
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11
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“Vejam, o salário dos trabalhadores que ceifaram os seus campos, e que por vocês foi retido com fraude, está clamando contra vocês” (cf. Tiago 5:4)
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12
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“Então jubilarão as árvores dos bosques perante o Senhor, porquanto vem julgar a terra” (cf. 1 Crônicas 16:33)
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13
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“Pois com alegria saireis, e em paz sereis guiados; os montes e os outeiros romperão em cânticos diante de vós, e todas as árvores de campo baterão palmas” (cf. Isaías 55:12)
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14
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“Mas, pergunta agora às alimárias, e elas te ensinarão; e às aves do céu, e elas te farão saber; ou fala com a terra, e ela te ensinará; até os peixes o mar to declararão” (cf. Jó 12:7,8)
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15
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“Ressoe o mar, e tudo o que nele existe; exultem os campos, e tudo o que neles há!” (cf. 1 Crônicas 16:32)
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As pessoas se esquecem que é comum a Bíblia personificar personagens inanimados, ainda mais em um contexto parabólico ou simbólico! Biblicamente, as árvores, sangue e trovões falam mais do que os mortos, que, quando falam, é em um contexto claramente metafórico, inserido em um contexto que dá margens a isto. Os meios de uma parábola nunca, nunca são literais e, por isso, o nosso próximo passo agora é descobrirmos o que representa cada elemento personificado na parábola do Lázaro.
Entendendo a parábola - A Bíblia não diz que o rico era um rico ímpio. Diz apenas que era “um homem ímpio e... morreu” (Lc.16:22). E isso nunca, jamais, em circunstância nenhuma, pode ser considerado um “pecado” digno de lançar uma alma no fogo do inferno. Se fosse assim, então muitos homens por serem ricos deveriam partilhar do inferno também, incluindo Abraão, Isaque, Jacó, Jó, José de Arimatéia, etc.
Lembre-se que estamos analisando a parábola literalmente como os imortalistas o querem que façamos para fundamentar uma doutrina bíblica. A parábola diz apenas que era um homem rico. Em momento nenhum diz que era um homem mau ou profano. E quanto Lázaro? A situação piora ainda mais para o lado dos imortalistas, pois a parábola diz apenas que ele “era um homem pobre e... morreu”.
Ora, jamais poderíamos pressupor que ser pobre ou mendigo é passaporte para ir direto para o Céu. Não. A Bíblia não ensina, em nenhum lugar, que por ser pobre ou ter sofrido muitas dores, alguém tem a garantia celestial. Isso não é bíblico! E a parábola nada diz de ser Lázaro um mendigo do “bem”, diz apenas ser um mendigo. Pense: se o rico fosse uma representação todos os justos e Lázaro representasse todos os ímpios (como querem os imortalistas), então não seria estranho que em momento nenhum Jesus dissesse que o rico era ímpio ou que o pobre Lázaro era justo?
Afinal, isso seria da maior fundamental importância caso fosse este o caso que Cristo quisesse ilustrar. Se fosse este o caso, então nos seria dito claramente que o rico era ímpio e o mendigo, justo. Mas isso não nos é relatado, porque, como veremos, não era isso o que Jesus ilustrar. Ademais, se a parábola deve ser analisada literalmente, então deveríamos colocar todos os pobres no Céu e todos os ricos no inferno. Irmão, são parábolas, e parábolas não tem meios reais; jamais podem entendidas literalmente.
Ademais, a parábola nos indica que Lázaro era do pior tipo de gente, com o corpo todo carcomido e cheio de chagas por uma doença terrível, presumivelmente a lepra. A obrigação, por Lei, de qualquer leproso (ou nestas condições do Lázaro da parábola) era de passar longe das demais pessoas e ainda gritar: “Imundo! Imundo!” (cf. Lv.13:44-46). Isto quando não eram apedrejados. Pobres criaturas!
Agora continue imaginando o cenário: Um rico, de alta classe, de repente se depara com esse pobre “farrapo” de gente, com cães lambendo as feridas em carne viva, devorada pela lepra. Qual seria sua reação? Deixaria ele comer da comida ou o expulsaria dali? Lembrem-se, pessoas como o pobre Lázaro nem mesmo podiam chegar perto de alguma pessoa da sociedade! Quanto mais comer das migalhas de algum homem rico!
Qual seria sua atitude ao encontrar, na porta de sua casa um leproso, em tamanho avançado grau de enfermidade? Sua reação é uma incógnita, mas a do Rico da parábola, não. Não só o permitiu comer das migalhas, como também não o expulsou dali (o que seria de acordo com a própria lei) e, além disso, pelo relato percebemos que tal fato deve ter durado dias de benevolência! Portanto, esse Rico da parábola não era um homem mau, mas bom, de coração e inclinado a fazer tal “caridade”.
Ora, se Lázaro por ser mendigo foi para o Seio de Abraão, por que o rico também não foi, uma vez que não é nenhum “pecado” ser rico, e, esse da parábola, demonstrou genuína humanidade? Por que o rico também não foi salvo, se a parábola deve ser analisada literalmente ou se a intenção de Cristo era representar os homens ímpios que vão para o inferno a partir dessa parábola? Se essa fosse a intenção de Cristo, deveríamos esperar que ele narrasse um homem rico completamente desumano, ímpio, ladrão, que merecesse verdadeiramente um inferno para si.
Esperaríamos realmente a descrição de alguém que nem ao menos deixa o pobre comer das migalhas e que ainda o chuta para fora, ou que consegue a sua riqueza por meios desonestos. Contudo, isso está muito longe de ser o caso! Ademais, se os salvos personificados pelo mendigo conversam com os ímpios no inferno, personificados pelo Rico; imaginemos, por exemplo, que você esteja no Céu, gozando a bem-aventurança, quando, de repente, você ouve gemidos, e estes aumentam gradativamente.
Você então contempla seu parente ou amigo no inferno, com o fogo inclemente o consumindo; sob gritos e torturas horríveis. Medite: Como você se sentiria, vendo-o do lado de lá, um amigo ou parente nesta estado? Afinal, se a parábola deve ser analisada literalmente, então o Céu e o inferno são separados por uma “parede-de-meia”, certo? Ora, é impossível acreditarmos numa coisa dessas, mas tal cenário insuportável é o que deveríamos admitir em caso de aceitar que os meios da parábola são literais.
Selecionei uma lista com apenas vinte de todos os absurdos a que chegaríamos caso fundamentássemos a parábola como uma doutrina bíblica:
ERROS E CONSTATAÇÕES DA ANÁLISE LITERAL DA PARÁBOLA PELOS SEUS MEIOS
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1
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Os mortos partem para o outro mundo não como “espíritos”, mas com o seu próprio corpo com dedos, línguas, etc.
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2
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Os “espíritos” sentem sede (v.24).
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3
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Ser rico é motivo de ser mandado ao inferno, apesar de ter demonstrado tão grande benevolência para com o pobre Lázaro e a própria parábola nada dizer de que o Rico era um homem mau!
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4
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Ser mendigo é passaporte para o Céu.
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5
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O Céu e o inferno ficam um bem do lado do outro (veríamos os nossos amigos ou parentes queimando lá do outro lado!).
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6
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Apesar de haver um “abismo intransponível” entre ambas as partes, os salvos podem ficar conversando a vontade com os ímpios que estão queimando no inferno (vs. 25 e 26). A comunicação entre os justos do Céu e os ímpios do inferno é perfeitamente possível (poderíamos ficar conversando com os nossos amigos ou parentes enquanto eles ficam queimando lá do outro lado!).
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7
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É possível falar perfeitamente como em uma conversa normal enquanto queima-se entre as chamas de um fogo verdadeiro (vs. 23-31).
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8
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O mediador não é Jesus, mas Abraão, para atender o chamado do rico (ver 1 Timóteo 2:5; João 14:6; Efésios 2:18, etc)
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9
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Usando a mesma lógica que os imortalistas usam com a análise literal dos meios de uma parábola, concluímos que as árvores falam (cf. 2 Reis 14:11).
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10
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Esse “Paraíso” é meio “esquisito”: Não há menção de Deus naquele lugar, e nem de Jesus.
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11
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Se os mortos partem para o “Seio de Abraão”, então Abraão morreu e partiu para o seio dele mesmo.
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12
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Para onde iam os que morriam antes de Abraão?
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13
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Caim inaugurou o tormento do Hades e está queimando há seis mil anos até hoje.
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14
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Os meios de uma parábola são reais e, portanto, deveríamos chegar à infeliz conclusão de que Deus é um juiz mau que nem ao homem respeita (meios da parábola de Lucas 18:1-8)
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15
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Os meios de uma parábola são reais e, portanto, deveríamos chegar à infeliz conclusão de que a Bíblia aprova a prática de administração desonesta (meios da parábola de Lucas 16:1-12)
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16
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Os meios de uma parábola são reais e, portanto, deveríamos chegar à infeliz conclusão de que e Deus é um homem severo que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste (meios da parábola de Mateus 25:24)
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17
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Se o Hades/Sheol é o inferno ou algum local de tormento, então Jacó foi sepultar o seu filho Benjamim no inferno (cf. Gn.37:35).
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Se o Hades/Sheol é alguma “morada de espíritos”, então Davi estava enganando-se a si mesmos e aos outros ao escrever que são os ossosque descem ao Sheol (cf. Sl.141:7 – “Sheol”, no original hebraico)
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Como explicar que na própria lição moral da parábola (ou seja, o que realmente devemos retirar dela como fonte de doutrina teológica), o personagem Abraão fala em “ainda que ressuscite alguém dentre os mortos” (vs. 30 e 31), confirmando que só a ressurreição é o caminho do retorno de quem morreu à existência?
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Por que Abraão diz ao Rico que “recebeste os teus bens em tua vida” (v.25), e não disse “na outra vida”, como seria o caso se ele estivesse falando com uma pessoa com vida e se isto fosse uma história real e literal?
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É evidente, portanto, que se trata de mera parábola e como as outras devemos tirar dela a sua lição moral e não analisá-la literalmente e muito menos podemos sair por aí fundamentando importantes doutrinas bíblicas edificando-as sobre meios de parábolas! Assim como na parábola de 2 Reis a lição não era que as árvores falam, mas cada elemento tem o seu devido significado, assim também o é na parábola do rico e Lázaro.
São parábolas, e parábolas não tem meios reais; jamais podem entendidas literalmente. Em circunstância nenhuma podem ser interpretadas literalmente pelos seus meios. O nosso próximo passo, a partir de agora, é desvendarmos o que cada um representava na parábola.
O significado dos elementos - O homem rico representava a nação judaica, que se orgulhava de se auto-considerar “os filhos de Abraão” (cf. Jo.8:33). Eram o povo escolhido de Deus, a nação eleita, sacerdócio real, tinham a Lei de Deus, os Mandamentos, eram os filhos legítimos de Abraão. Deus lhes computou todas as responsabilidades do Reino como os Seus filhos, como a Sua nação eleita.
Contudo, rejeitaram o Messias, rejeitaram o Filho de Deus encarnado, preferiram seguir os seus caminhos e as suas tradições, fundamentando-as na segurança de serem os filhos de Abraão, a nação de Jeová e, portanto, os filhos legítimos do Reino. Em contraste, como eles consideravam os gentios? Os consideravam como os coitados, considerados como cães, imundos e indignos do favor do Céu, pelos judeus. Não foram os “escolhidos de Deus”, eram, portanto, os “Lázaros espirituais”.
Enquanto os judeus receberam tudo de bom nesta vida, recebendo o favor de Deus como a nação eleita e sacerdócio real, para lhes ser computada como justiça, os gentios (representados pelo mendigo Lázaro) eram os “pobres” do Reino. Ficavam para trás, o máximo que faziam era “comer as migalhas” daqueles que faziam parte do Reino, os judeus, representados pelo Rico.
Como o rico, os judeus não estendiam a mão para auxiliar os gentios em suas necessidades espirituais. Permitia apenas comer das migalhas. Cheios de orgulho, consideravam-se o povo escolhido e favorecido de Deus; contudo não serviam nem adoravam a Deus. Depositavam confiança na circunstância de serem filhos de Abraão, dizendo: “Somos descendência de Abraão” (cf. Jo.8:33), e diziam isso com altivez.
Assim, foram os judeus comparados ao homem Rico da parábola, pelo fato de que possuíam as riquezas do evangelho; mas, no entanto, não cumpriram a vontade de Deus a respeito deles, que era de ser a luz dos gentios. No campo religioso, os pobres gentios pegavam mesmo, apenas as migalhas.
Uma cena que exemplifica bem esse quadro encontra-se no evangelho de Mateus: “E, partindo Jesus dali, foi para as bandas de Tiro e Sidom. E eis que uma mulher cananéia, que saíra daquelas cercanias, clamou dizendo: Senhor, filho de Davi, tem misericórdia de mim, que minha filha está miseravelmente endemoniada. Mas Ele não lhe respondeu palavra. E os discípulos, chegando ao pé dEle, rogaram-lhe dizendo: Despede-a, que vem gritando atrás de nós. E Ele respondendo disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. Então chegou ela e adorou-O dizendo: Senhor, socorre-me. Ele porém, respondendo disse: Não é bom pegar no pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos. E ela disse: Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores. Então respondeu Jesus, e disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé: Seja isto feito para contigo como tu desejas. E desde aquela hora a sua filha ficou sã” (cf. Mateus 15:21-28).
Aquela mulher cananéia (gentios) também queria compartilhar das “migalhas” da mesa, assim como o mendigo Lázaro. Uma descrição perfeita daquele cenário. O que Jesus fez? Elogiou a sua fé. Apesar de ele ter sido chamado para a “casa de Israel”, ficou impressionado com a fé dos gentios, pois “nem mesmo em Israel encontrou tamanha fé”. Aquela gentia contentava-se em comer das migalhas da mesa, como é o caso de Lázaro na parábola. Outro exemplo disso encontra-se em Mateus 8:5-13.
Nesta experiência o centurião expressou exatamente o que os judeus pensavam dos gentios: “Não sou digno de que entreis em minha casa” (v.8). No entanto, o centurião demonstrou grande fé quando disse: “Diga somente uma palavra e meu criado sarará”(v.8). Jesus curou o servo daquele gentio e publicamente elogiou sua fé com estas palavras: “Nem mesmo em Israel encontrei tanta fé” (v.10), e, por fim, assegurou que muitos gentios irão se assentar na mesa com Abraão (cf. Gl.3:27-29; Rm.10:12).
Apesar de serem considerados “a descendência de Abraão”, os gentios demonstravam uma fé muito superior do que a dos próprios israelitas! Embora estes fossem “os ricos do Reino”, devendo ser a luz das nações e os reis da terra deveriam caminhar vendo a glória de Deus que paira sobre eles (cf. Is.60:3), não aproveitaram essa sua riqueza. Os gentios, contudo, mesmo sendo os “Lázaros espirituais”, desprezados pelos judeus por não serem os “filhos de Abraão”, demonstraram uma fé muito superior a dos próprios judeus.
No pátio do Templo de Jerusalém havia uma linha demarcatória que, no caso de ali algum gentio passar, morria imediatamente (cf. At.21:29); isso porque eram considerados indignos pelos judeus de cultuar a Deus no Seu Templo. Portanto, Cristo quis ensinar nesta parábola que os judeus (Rico) banqueteavam-se na mesa da verdade, enquanto os gentios (Lázaro), eram como os cachorrinhos que procuravam a todo custo apanhar ao menos das migalhas do evangelho.
E, de fato, eles passaram a fazer parte da mesa de Deus, unidos em “um só povo” (cf. Jo.11:52). Isso serviu de lição moral ao grupo dos fariseus, exatamente para quem Cristo dirigia essa parábola (v.14,15). A maior prova de que o Rico (nação judaica) recebeu “seus bens em sua vida”, como nos informa a parábola, foi o fato de ter sido chamada para ser o sacerdócio real de Deus na Terra, nação santa, peculiar.
Sobre ela o Senhor dispensou, por séculos, bênçãos sem limites, além de dar-lhes uma terra onde mana leite e mel e, finalmente, deu-lhes o próprio Messias, o Salvador. A reação do rico (judeus), contudo, foi esta: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (cf. Jo.1:11). Os judeus, portanto, rejeitaram o Messias (o Rico morre). Assim sendo, perderam a soberania divina sobre as demais nações.
O evangelho haveria de ser então anunciado em seu poder aos gentios (Lázaro), a fim de que também eles participassem da mesa do Reino. Não comeriam mais migalhas da mesa do Senhor, mas fariam parte da mesa do Reino. O que Jesus faz? Ele tira do próprio Abraão, sobre o qual aquela nação judaica se orgulhava em sua chamada “superioridade”, as palavras que este haveria de ter dito em pessoa: “Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite”(cf. Lc.16:31).
Essa é a lição moral da parábola. Nada, nem mesmo uma ressurreição, poderia converter aquela nação novamente. Tornaram-se cegos espirituais, cavaram-se a si mesmo um abismo intransponível entre eles e Deus, entre eles e a salvação. Os gentios, contudo, haveriam de desfrutar muito maior bem-aventurança!
Conclusão - Concluímos, pois, que a parábola não deve ser interpretada literalmente pelos seus meios fundamentando-a como doutrina, pelo contrário, tem cada elemento o seu devido significado ao exemplo das outras parábolas que também não apresentam meios literais, mas uma verdade moral. Diante do contexto, vemos que Cristo contou essa parábola para condenar os fariseus (cf. Lc.16:14,15), que representavam exatamente a hipocrisia dos judeus em considerar-se “os filhos de Abraão” (cf. Jo.8:33).
Jesus, então, põe na boca de Abraão as palavras que este haveria de ter dito em pessoa: “Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tão pouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos” (cf. Lc.16:31). Ele contou a parábola do rico e do Lázaro, em que o rico representava o próprio povo judeu que teve todas as oportunidades nesta vida, mas a desperdiçou, enquanto, em contraste, os gentios (representados por Lázaro na parábola) eram os “Lázaros espirituais”, desprezados pelos judeus, mas que desfrutariam de muito maior bem-aventurança do que a própria nação judaica que se autoproclamava os “filhos de Abraão”.
O quadro todo representava aquela nação judaica que se orgulhava por serem os filhos de Abraão escolhidos de Deus (representados pelo Rico), quando na verdade os que são da fé, estes sim é que são os verdadeiros filhos de Abraão (representados pelo pobre Lázaro). Por fim, a lição moral da parábola é que “se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite” (cf. Lc.16:31).
Os fariseus desprezavam Jesus, não acreditavam nele, o perseguiam, apesar de todos os feitos milagrosos de Cristo, incluindo o de ressuscitar os mortos. Jesus havia ressuscitado exatamente um homem chamado Lázaro (cf. Jo.11:43,44), que havia voltado à vida após quatro dias em que esteve morto, mas nem mesmo assim os fariseus acreditaram nele, e ainda continuavam a o perseguir! Então ele ensina que para aqueles que se proclamavam os “filhos de Abraão”, nenhuma prova – nem mesmo sequer uma ressurreição, como foi a de Lázaro – os fariam mudar de opinião e converter-se. O próprio Abraão que os condenava!
Jesus não estava dizendo que literalmente algum morto teria que voltar a vida para contar sobre os tormentos do Hades, convertendo assim aquela nação judaica, pois a Bíblia traz um relatório de sete pessoas que foram levantadas dentre os mortos (cf. 1 Reis 17:17-24; 2 Reis 4:25-37; Lucas 7:11-15; 8:41-56; Atos 9:36-41; 20:9-11), mas absolutamente nenhuma delas teve uma experiência de pós-morte para compartilhar. Lázaro, que foi trazido à vida após quatro dias morto não teve nenhuma experiência fora do corpo, e muito menos alguma “mensagem” para trazer a família nenhuma.
O que Jesus estava fazendo era uma exortação a comunidade: Ouvirem a Moisés e aos profetas, antes que seja tarde demais. Na parábola do Rico e Lázaro, Cristo mostra que é nesta vida os homens decidem seu destino eterno, porque, depois, apenas por meio da ressurreição ganharemos vida (cf. Lc.16:31). Durante o presente momento, essa salvação é oferecida por Deus indistintamente, a toda criatura, sem distinção entre judeus ou gregos. Mas, se os homens desperdiçam as oportunidades na satisfação própria, acabam por si mesmos cavando entre eles e Deus um abismo intransponível.
Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)
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